Conceição Evaristo

Conceição Evaristo é uma romancista, contista e poeta mineira, cuja obra se tornou fundamental para a compreensão da experiência da mulher negra no Brasil. De origem humilde, ela trabalhou como empregada doméstica antes de concluir seus estudos e se tornar professora e, mais tarde, doutora em Literatura Comparada. Sua trajetória pessoal e acadêmica é a base de sua produção literária, que busca dar voz e visibilidade às vivências historicamente silenciadas.

Sua grande contribuição teórica e literária é o conceito de "escrevivência", uma junção de "escrever" e "vivência". Para Evaristo, a escrita da mulher negra não é apenas ficção, mas um ato de inscrever no corpo da nação as suas memórias, suas dores, suas alegrias e sua ancestralidade. Sua prosa é ao mesmo tempo lírica e contundente, trazendo à tona as complexidades do racismo, do machismo e da desigualdade social no Brasil.

Principais obras:

• Ponciá Vicêncio: O primeiro romance de Evaristo, a obra narra a trajetória de sua protagonista desde a infância em uma comunidade rural pós-abolição até sua migração para a cidade grande. Ponciá carrega consigo uma herança de dor e silêncio de seus antepassados escravizados. O livro explora temas como identidade, memória, ancestralidade e a busca por um lugar no mundo, mostrando como o passado continua a ecoar no presente da população negra.

  
  

• Becos da Memória: Escrito nos anos 80 mas publicado apenas em 2006, este romance se passa em uma favela que está prestes a ser removida. A partir do olhar da jovem Maria-Nova, a obra tece um mosaico de histórias dos moradores, revelando seus sonhos, suas lutas e a força dos laços comunitários diante da iminência da perda. É um retrato afetuoso e poderoso da vida na periferia, que celebra a resiliência e a memória como formas de resistência.

  
  

• Olhos d'Água: Uma coleção de contos premiada que captura a essência da "escrevivência" de Conceição Evaristo. Cada história revela um fragmento da vida de mulheres e homens negros em diferentes situações de vulnerabilidade, abordando temas como a violência urbana, a pobreza, a maternidade e o racismo. O título se refere à busca da narradora pela cor dos olhos de sua mãe, uma metáfora para a busca por identidade e pela recuperação de uma memória que foi historicamente apagada.