Clarice Lispector

Nascida na Ucrânia em uma família judia que fugia da perseguição, Chaya Pinkhasivna Lispector chegou ao Brasil ainda criança e se naturalizou brasileira, adotando o nome Clarice. Desde seu romance de estreia, publicado aos 23 anos, ela chocou e fascinou a crítica com um estilo completamente novo. Sua vida foi marcada por períodos no exterior como esposa de um diplomata, mas sua matéria-prima literária sempre foi o universo íntimo, a sondagem profunda da alma feminina e a busca por um sentido para além da linguagem.

A relevância de Clarice está em sua prosa inconfundível, frequentemente descrita como "epifânica". Seus textos não se prendem a enredos tradicionais; em vez disso, eles mergulham no fluxo de consciência de suas personagens, capturando momentos banais do cotidiano que de repente se abrem para revelações existenciais profundas. Ela explorou os limites da linguagem para expressar o inexprimível, tornando-se um ícone da literatura modernista e uma das escritoras mais influentes do Brasil.

Principais obras:

• A Hora da Estrela: Seu último e talvez mais famoso romance, esta obra é uma meditação comovente sobre a pobreza, a identidade e o próprio ato de escrever. A história narra a vida de Macabéa, uma datilógrafa alagoana, ingênua e "feia", que vive uma existência anônima e sem sentido no Rio de Janeiro. A narrativa é contada por um narrador masculino, o escritor Rodrigo S.M., que luta com a responsabilidade de dar voz à vida de uma pessoa "insignificante", em uma exploração poderosa da alteridade e da compaixão.

  
  

• A Paixão Segundo G.H.: Um dos romances mais densos e filosóficos de Clarice. A obra é um longo monólogo interior de uma escultora da elite carioca, identificada apenas como G.H., que passa por uma crise existencial avassaladora após esmagar uma barata na porta de um guarda-roupa. Esse evento repugnante a leva a um processo de despersonalização e a uma busca por uma nova forma de ser, questionando a identidade, a linguagem e a relação entre o humano e o "inumano".

  
  

• Perto do Coração Selvagem: O romance de estreia de Clarice, que a consagrou instantaneamente como uma voz revolucionária na literatura brasileira. Influenciado por James Joyce, o livro acompanha o fluxo de consciência da protagonista, Joana, desde sua infância órfã e rebelde até a vida adulta. A obra abandona a narrativa linear para focar nas percepções, sensações e questionamentos filosóficos de Joana sobre a vida, a liberdade e o amor, estabelecendo o estilo introspectivo que marcaria toda a sua carreira.